terça-feira, 17 de novembro de 2009

SINTOMÁTICO


Uma dor na alma,

Uma angústia que chora,

Uma solidão que apavora,

Um sentimento qualquer de pura aflição.

E dá uma falta de ar,

Uma tontura panorâmica;

E como um elemento da semântica

A visão turva,

Na simetria de uma visão.

E o fantasma cresce,

E se aproxima com voracidade.

Nessa hora um desmaio indigno

Escurece toda a verdade.

É pertinente dizer

Que um enjôo, uma dor de cabeça,

Fazem a fragilidade ficar ainda mais evidente.

O corpo pesa,

O coração aperta,

E um sono terrível se faz companheiro permanente.

Há algo errado, se sabe, não há dúvida.

Mas o que faz um guerreiro tombar

Se não a violência do impacto da flecha?!

A gente acostuma com a dor.

Mas o momento do impacto,

E a eternidade do tempo entre um ferimento quente

E a frieza do depois...

Aí sim, o guerreiro precisa parar e respirar fundo.

E se é preciso seguir diante do mundo,

Levanta-se,

Amarre-se uma tala;

Não cura, mas o ferimento cala;

E se recomeça a marcha,

Até um pouco solitária,

Em busca de uma vitória pessoal.

Os guerreiros são impiedosos

Com eles mesmos;

Os guerreiros morrem de dor

Entre eles mesmos;

Os guerreiros fogem do amor

Por eles mesmos.

O amor fragiliza,

Hipnotiza,

Desmoraliza.

É melhor uma flecha cravada no peito

Que uma flor ao alcance da mão.

É melhor sangrar de maldade

Que chorar de saudade,

Sem poder conter a hemorragia de amor

No coração.


Cacau Rodrigues

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

OUVINDO TOCAR O PIANO



Mais uma noite sem você.
E um piano bar à nossa espera, amor.
O que você faz aí que não vem?
Se derrete toda no calor de quem?
Esse Rio de Janeiro quente,
Cheirando a sexo ardente,
Bebendo energético com vodka,
Pegando em cada esquina uma menina exótica.
Mas eu estou aqui,
Ouvindo tocar o piano que nos espera no bar;
Estou aqui sonhando o sonho que eu sei sonhar;
Estou aqui fingindo que nossa música será tocada
A qualquer momento
Por aquele pianista discreto,
Que não parece gente, apenas mais um elemento;
Alguma coisa funcional na decoração do bar.
Mas ele não vai tocar.
Nem você está aqui,
Nem estamos lá no bar.
Eu estou aqui, delirando mais uma vez.
Bota a carreira, meu bem!
Deixa eu delirar.
E nem pense, em hipótese alguma,
Em me acordar!
Mais uma noite sem você,
E essa merda de piano ainda nos espera no bar.

Cacau Rodrigues

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

SOBRE A MINHA AUSÊNCIA

Estou aqui para dizer aos amigos do ‘Furacão’,
que estão sentindo minha ausência,
que tenho andado com problemas de saúde
e por isso sumida do blog.
Continuo escrevendo, mas não tenho tido ânimo pra postar meus textos.
Aproveitando que acordei no meio da madrugada,
resolvi abrir meus e-mails e também vir aqui deixar esse recado.
Estou sob cuidados médicos e ainda fazendo exames.
Peço a compreensão de vocês.

Amanhã, devo fazer pelo menos uma ou duas postagens.

Grande beijo a todos!


Com saudade,

Cacau Rodrigues.

sábado, 1 de agosto de 2009

IMPRESSÕES DE UMA ARTE SIMPLES

Bom, esse texto eu escrevi a partir de uma ideia, um sentimento, uma lembrança.
Eu estava pensando na família que escolhi, e que me acolheu; e nos quase dois dias que passei em Araraquara (SP). E comecei a pensar em tudo que vivi, em tudo que deixei de viver; nas quedas ridículas, nas vezes que tentei levantar, conseguindo algumas e noutras simplesmente desabando mais. Mas principalmente, estava pensando no hoje e no amanhã que eu quero pra mim.
Sou uma carioca marrenta, com uma descendência de alma, no mínimo interessante; desconcertante, diria uma parte maliciosa da imprensa: Eu sou uma carioca com descendência de alma paulista. Alguma coisa de errado? Nada. Apenas que fora criada uma rivalidade idiota entre esses dois Estados fantásticos. E eu, que nasci mesmo pra quebrar convenções e ditar minhas próprias normas, resolvi me encontrar “por acaso (?)” com esse meu lado ‘paulistamente’ lindo e puro.
Valeu, m’ermão! Eu sou a fina flor carioca, plantada no meu Rio de Janeiro, colhida em São Paulo, depois de um doce florescer.

Dedico esta poesia, e todas as minhas impressões de paz, à família que me fez conhecer o amor incondicional, representada pelas figuras de mamãe Catharina e papai Luiz, de Araraquara, São Paulo.

Um carinho especial às minhas irmãs Dulcinha Adorni, Dirce Vetarischi e Dora Bobojc.
Cacau.
IMPRESSÕES DE UMA ARTE SIMPLES


A felicidade maior está na arte de um papo de esquina,
Um jeitinho de menina,
Um sorriso maroto,
Um carinho repentino,
Um encontro inesperado,
Mas com dia marcado
Apenas pelo destino;
Como a amizade que chega sem mandar aviso,
E entra sem pedir licença,
E fica sem nenhum motivo,
E não vai embora
Porque ‘jamais estará na hora’.
A felicidade está na caneta sobre o papel,
Nos dedos habilidosos sobre o teclado,
Nas palavras que saem sortidas,
Algumas vezes mordidas,
Todas as vezes poéticas,
Na mais pura revelação de sentimentos
No exercício de uma arte simples.
A felicidade é conhecer um rosto,
Reconhecer o lado que não está exposto;
A felicidade é a beleza de ouvir e ver
Coisas, pessoas e atitudes
Fora desse mundo tosco.
A felicidade está no latido de um cão,
No miado de um gato,
Na gargalhada de uma criança.
A felicidade está no doce da vó,
No colo da mãe,
Numa vida cheia de esperança.
A felicidade está num beijo de amor,
Na instigante primeira troca de olhares,
Na imediata vontade de andar junto
Por todos os lugares.
A felicidade está até no desejo contido,
No amor não correspondido,
No sentimento escondido
Que manda o bom senso pelos ares.
A felicidade está na arte de ser feliz
Quando tudo parece perdido.
Porque a felicidade está na música que ouço,
Na poesia que faço,
Na mulher que conheci,
No sonho de um abraço,
Na família de amigos que escolhi.
Felicidade pra mim é isso.
Apesar das loucuras dessa vida,
Das noites mal dormidas,
Ser uma espécie simples de artista
Me faz feliz.
Eu sou poeta porque Deus quis.



Cacau Rodrigues




POESIA DE VIAGEM



POESIA DE VIAGEM


Cheguei de São Paulo outro dia,
Numa felicidade que nem me cabia.
Trazendo no peito um sonho refeito,
Um desejo satisfeito,
Uma visão mais aberta,
Um outro conceito.
A certeza de ter conhecido,
Algo para mim despercebido:
O amor incondicional.
Na minha bagagem
Poesia de viagem,
No meu coração
Simplesmente o amor.
Foi muito rápido;
Nem tive tempo de mexer em Araraquara,
Mas de alguma forma
Araraquara mexeu em mim.
Cheguei ao Rio de Janeiro,
E tudo parecia ainda mais bonito.
Os postes pareciam sorrir,
As calçadas pulavam,
Os bares chamavam,
As mulheres queriam muito mais de mim.
Queria chegar,
Mas queria voltar.
E queria que Araraquara fosse logo ali.
A vida faz coisas engraçadas,
Faz partidas,
Faz chegadas,
Faz até umas paradas
Pra gente não se cansar desse longo caminho.
Eu estou aqui, de volta ao mundo que deixei.
Foi por um tempo curto, eu sei.
Mas foi o tempo que eu precisei;
Tempo suficiente pra tudo acontecer.
Porque o tempo
É sempre o tempo certo
Pra dar tempo da gente entender.



Cacau Rodrigues

sexta-feira, 17 de julho de 2009

ESSE É MEU COMPADRE



ESSE É MEU COMPADRE


Aê, dá meu chapéu, meu cumpade!
Dá mole não, meu cumpade!

Mostra aê, meu cumpade!
Chega cambaliando,
Faz que foge e v
olta, e manda;
É na banda que tira a demanda!
Azeitando na hora alta da madruga,
É meu cumpade quem me ajuda!
Dá cá o chapéu, malandro!
Tô indo sem bando,
Vou de vermelho e branco, malandro!
Na galhofada eu mando!

Comandando a ralé,
encantando a nobreza;
E quem pensa que sabe qual é,
vira presa;
fácil presa,
Seja homem ou mulher.
E jogo mesmo!

Vou trocando as pernas,
Bandeando de cigarro e cerveja na mão!
Vou na mistura de chão:
Calçada, esquina, puta e cafetão!
É o cão da noite, cumpade!
É poesia, cumpade!
É língua macia, cumpade!
Vou descer a ladeira,
Girando, cantando,
Fazendo zoeira,
Pensando besteira,
Topando com o bode!
Quem encara se fode!
Vou dando rasteira

Em quem acha que pode!
A vida é assim:
Quem quer sair nem entra mais;
Quem quer entrar não pede, invade.
Eu nem ligo!
Sou protegida da lei do cumpade.



Cacau Rodrigues

POR MAIS QUE A VIDA PASSE



POR MAIS QUE A VIDA PASSE


Guardarei em mim teus gestos;
Guardarei pra ti meus versos.
E mesmo que os amores cheguem,
Assim, aos montes, diversos,
O que foi dito não se perderá jamais.
As palavras que vêm, as palavras que vão;
Todas as palavras são
Fruto de um íntimo querer.
As palavras escritas, as palavras ditas;
Todas como palavras de amor,
Foram feitas para se dizer;
E são a certeza de que nada disso terá sido por acaso.
Te desejei cada minuto,
Te amo mais cada minuto.
E por mais que a vida passe,
Seremos parte intrínseca de um sentimento eterno.
Por isso acredite,
Conhecer-te não foi algo sem sentido.
E não se desespere,
Querer-me nada tem de proibido.
A vida nos sorrirá,
Esse amor cada vez mais existirá,
Toda vez que um bobo se calar.
Toda vez que um bobo comentar.



Cacau Rodrigues

DIVINA DAMA



DIVINA DAMA


Divina dama!
Divina luz que o refletor emana!
Como é vermelho esse vermelho
Que me incendeia e chama!
Como é patético um clientinho bosta
Quando ama!

Muquifo de nobreza,
Que lugar de pobre natureza;
Tanto faz pra mim
Se é mau gosto ou beleza.
Levo uma rosa murcha
Pra consumir minha princesa,
Venho aqui pra ir além.
E eu encanto do meu jeito,
Pelos cantos, do meu jeito;
Faço cara de quem matou alguém.

Num cabaré todas as figuras são assim:
Desenhos de bandidos,
Esboços de ‘fudidos’,
Retratos de nós mesmos.
Cara, jeito e história de ninguém.

E eu, a bandida, como a deusa,
Em meio à fumaça e as putas de um corredor.
Molhando o sexo e os dedos,
Sem corriolas nem segredos,
Vou sozinha nessa missão de quase amor.
A língua suave, embora rígida,
Habilidosamente incha
O grelo da distinta de tesão.

E ela não vai com todo mundo,
Gosta de um tipo vagabundo,
Que vira homem quando ela quer.
Por trás eu meto o brinquedo,
Na dita brinco com meus dedos,
E faço da vadia qualquer coisa
Parecida com uma mulher.

E depois de ser um lixo singular,
Num contexto que não dá nem pra falar,
A divina dama sabe da hora de brilhar,
E nem andar ela consegue.

Mas ao adentrar no salão
A divina dama embriaga,
Se mostra numa dança rara,
Pára o mundo numa só situação.
E de antemão,
Como fosse pra evitar a confusão,
Rapidamente se retira;
E faz esse amontoado inútil e bobalhão,
Sem sentimento ou razão,
Ficar na mão,
Deixando o alívio pobre dos otários
Pelo chão.



Cacau Rodrigues

TANGO DO MALANDRO



TANGO DO MALANDRO


O tango do malandro é a gafieira.
Uma coisa de Exu com presepeira,
Um cariocado malandrão,
Um riscado no salão à noite inteira.
A dama argentina da Lapa,
É quase uma Pomba-gira caricata,
Uma dançarina acrobata.
Melhor parar pra olhar,
Que não tem repeteco não.
Quem é malandro da gira,
É chefe, manda-chuva, capitão!
Aê, malandragem!
Quem entra nessa não tem volta não!
O marafo queimando adoidado,
O tilintar do gelinho nos copos,
A carreira esticada na mesa;
A rapaziada chega,
A rapaziada cheira;
E a vida é uma beleza!


Cacau Rodrigues

INOCENTE SEDUÇÃO



INOCENTE SEDUÇÃO


A menina fala, olha,
Transborda curiosidade,
Quando o dia começa.
Vai andando assim,
Como quem não pensa em nada,
Num caminhar sem pressa.
E o dia passa em sorrisos, olhares,
E brincadeiras sem limites,
Totalmente infantis.
Ninguém sabe o que pensa essa moça;
Quantos desejos movimentam seus quadris.
Observo toda vez que ela passa,
Faço tipo,
Mas no fundo eu acho graça;
De repente até me esqueço
Que sou uma mistura perigosa
De poesia com cachaça.
Acendo um cigarro,
E ela sobe com a fumaça;
Se é perigoso acompanhar o que está feito,
Se puder, meu bem, desfaça.
Então procuro pensar em outras coisas;
Perder o rumo não vai me levar a nada.
No acostamento da razão eu paro um pouco;
O lugar nenhum está no caminho dessa estrada.
Mas a mulher se faz presente,
E fecha todas as saídas que eu encontro.
Maquiada para a noite,
Encantadora e linda,
Ela seduz os meus olhos mais ainda.
E o que vejo para nós assim de pronto?
Pode ser que o futuro marque um ponto.
Por enquanto imagino,
Mas não conto.


Cacau Rodrigues

sexta-feira, 10 de julho de 2009

NA SERRA DAS ARARAS



NA SERRA DAS ARARAS


Estou indo para São Paulo.
Subindo uma serra,
Quebrando as vidraças
Das paredes da minha alma.
Há um misto de solidão e liberdade
Dentro de mim.
Solidão de você;
Liberdade de você.
Sinto um pouco de fome.
E esse pensamento que não cessa,
Me levando até você o tempo todo.
Tento pensar em mim
E não consigo;
Tento pensar nos amigos
E não consigo;
Tento dormir
E não consigo;
Tento ler,
Mas não consigo.
Às vezes dá vontade de chorar,
Mas eu tô legal.
Nunca deixei o meu Rio de Janeiro,
Assim, tão responsável por mim;
E isso tá me deixando um pouco sem chão.
Mas eu tô bem.
Hoje me vejo em totais condições pra isso.
Um pouco só, é verdade,
Mas com uma lucidez fora do comum.
Eu me sinto bem.
E com tantas pessoas,
Mas sem você.
Sem ninguém.
Uma chuvinha chata
Faz tudo ficar mais chato;
Uma neblina
Que não me deixa ver bem a estrada;
Sem visibilidade não posso mesmo
Fazer quase nada.
Mas penso em você.
O apoio de pé da poltrona ao lado,
Depois do corredor,
Mexe sozinho.
Parece coisa de fantasma,
Achei engraçado,
Deu vontade de rir sozinha.
Ônibus...
O puto tem dois andares.
E eu caí em cima sem querer!
É pra rir.
Mas sabe que gostei?
É tranquilo aqui em cima.
E eu aqui com todas essas pessoas...
Tem uma menininha atrás de mim,
Com a mãe e a avó, eu acho;
Vendo Branca de Neve.
E ela fala, ri...
E nada baixo!
Pelo menos anima.
Sinto sua falta.
Sinto saudade do meu mundo.
Mas eu estou indo;
E indo para um encontro feliz.
Fui convidada para a festa
Da minha sobrinha Muriel.
E isso foi muito importante pra mim.
Penso em você a cada minuto,
Mas vamos prosseguir.
Vida que segue!
Sem meu café,
Sem minha casa,
Sem meu Rio,
Sem meu cigarro,
Sem a família,
Sem o bar do Zé;
E sem você.
Nem precisava
Escrever tanto sobre esse vazio
Para o mundo compreender.



Cacau Rodrigues

A MANTA



A MANTA


A manta,
Estilizada e santa,
Do frio que espanta,
Do frio que afronta,
Que amedronta,
Mas não desponta.
Pobre de mim,
Que acreditei tanto assim,
E levei essa manta.
Nem foi colada comigo,
Porque não havia lugar;
Nem precisava ir comigo,
Porque não havia esse frio
Pra eu ter que me agasalhar.
E o dia seguinte de sol,
Já mostrava que a manta,
Novamente seria descartada sim.
Mais uma noite de viagem,
A manta no compartimento de bagagem,
E eu me lembrando da manta,
E rindo muito de mim.



Cacau Rodrigues


Este poeminha é dedicado a Dirce Vetarischi, minha irmã amada, que insistiu pra que eu levasse a tal mantinha na viagem que fiz até sua casa, em Araraquara (SP). Que noite fria, que só estava na cabeça da minha mana Dirce, hein? rs.




CONFUSO ESTADO DE ESPÍRITO



CONFUSO ESTADO DE ESPÍRITO


O que meu estado de espírito não governa,
Com certeza externa,
Com certeza assume;
E me pune,
Às vezes deixa imune;
Porque a espera desespera,
O silêncio aprisiona,
O desprezo humilha;
Porque o amor amedronta,
Ou encoraja demais.
Poetas falam,
Poetas falam até quando calam;
Mas também querem ouvir.
Ficam analisando tudo e todos,
Talvez buscando respostas sérias,
Ou justificando pensamentos bobos.
Não falar para não perder,
É quase perder sem falar.
Por isso jamais me calei.
Mas não falar para perder
É uma atitude covarde,
Na mais pura demonstração
De desrespeito à sua própria importância.
Por isso também jamais me calei.
Minhas palavras gritam,
Porque meu pensamento arde.
Sou o que sou,
Assumo o que sinto,
Confesso o que sei.
Faço poesia porque tenho algo a dizer,
Mas também faço porque sei fazer.
Confesso o que sei,
Assumo o que sinto,
Sou o que sou.
Não tenho medo de ser o que sou.
Sou o que sou,
Confesso o que sei,
Assumo o que sinto.
Digo que amo,
Digo o que quero,
Com todas as palavras que tenho.
Assumo o que sinto.
E se meu estado de espírito está confuso,
Nem sei que palavras uso,
É porque a ausência de retorno,
Como fosse assim um estorno,
Se faz num silêncio gritante.
Quero me calar, mas não consigo;
Quero acreditar, mas não consigo;
Quero desistir, mas não consigo;
Quero respeito e não consigo.
O que fazer quando não se sabe mais o que fazer?
O que falar quando tudo já foi dito?
O que pensar quando não há diretriz de pensamento?
De que adianta ser poeta numa hora como essa?
Pra serve a poesia senão para tocar o coração das pessoas?
Poesia que não surte efeito nem deveria existir!
Poeta sem conceito deve ficar em casa e dormir.
Mas se existe uma tristeza
Misturada com certeza,
Num sentimento de grandeza
Da minha verdade,
Que é assim como riqueza,
Eu vou continuar aqui.
Quem diz a verdade não merece castigo;
Eu tenho o direito de ter o que ouvir.



Cacau Rodrigues



quinta-feira, 9 de julho de 2009

FIEL ANCORADOURO

FIEL ANCORADOURO


Quando de meu estado faço um pranto,
É porque me (des)encontro meio e tanto,
Longe de ti ainda em desencanto.

Quando ainda perco a calma e grito,
É porque deste mundo o que é bonito
Preso está no encanto que a ti credito.

E tu vais navegando pra lugar nenhum,
E eu, porto, fiel ancoradouro, sou mais um
A chorar, a esperar, eu sou mais um.

Mas eu sei que tu retornarás aos braços meus,
Arfando, marejando os olhos teus;
Pregando amor de fé para os perdidos e ateus.

Rainha, vem de ti minha coragem;
E eu, mais um guerreiro de passagem,
Farei de minha luta, hospedagem.

Não temas, não fujas mais!
A ti me entrego corpo e alma;
Porque meu coração já tens,
E em mim já estás.


Cacau Rodrigues



Lendo Camões e pensando nela.
É claro que não quis fazer um soneto;
não há nenhuma métrica que o valha neste poema.
Minha intenção foi apenas dar uma atmosfera semelhante.


sexta-feira, 5 de junho de 2009

COM A LÍNGUA DO DESEJO



COM A LÍNGUA DO DESEJO


Era um sonho real.
Eu via você deitada
Em uma cama macia,
Lençóis de cetim,
Almofadas do Oriente,
E uma nudez quase angelical.

Cheguei como um Sultão vagabundo
Lambendo suas pernas,
Molhando entre as pernas,
Dando um nada pro mundo,
Arrepiando você bem no fundo.
E uma nudez já nada angelical.

Você deu um gemido,
Um breve sorriso,
Segurando a minha cabeça;
E sem nenhuma conversa
Dizia que estava bom;
Dando outros gemidos
Bem fora do tom.

Me empenhei tanto tanto
Nessa tarefa incessante,
Que num dado instante,
Você nada hesitante,
Mexendo os quadris
De forma alucinante,
Deu um gemido excitante,
Gritos deselegantes,
Fazendo escorrer de você
Esse líquido odara;
Encharcando de prazer
A minha língua,
A minha boca,
A minha cara.
Acordei cansada e feliz
Pelo que sonhara.


Cacau Rodrigues

quinta-feira, 4 de junho de 2009

QUASE UM MOMENTO DE ORAÇÃO


QUASE UM MOMENTO DE ORAÇÃO


E na mente da poeta nada.
Não encontro o tom,
A palavra certa,
A certeza do tema,
Qualquer coisa que o valha
Simplesmente pra fazer poema.
A vontade salta,
Se mostra,
Mas a palavra falta,
Se prostra.
Eu só consigo pensar.
E só consigo pensar
Naquela que eu amo,
Sem um movimento sequer
De uma escrita objetiva.
E pensar naquela que eu amo
É quase um momento de oração.
Eu me entrego, me calo, me cego,
E em silêncio me pego;
E me vejo sorrindo,
Me acabo chorando,
Não nego.
É um momento sagrado pra mim.
Nada posso fazer,
Não consigo falar,
E não quero mover uma palha
Que faça mudar esse estado
De adoração.
Por isso não escrevo.
A vontade clama por versos,
Mas o amor inflama pensamentos diversos,
E eu sigo inerte,
Com uma aparência letárgica,
Embora em chamas por dentro.
Vai e volta,
Arde o mais bobo pensamento.
Fico assim porque amo,
Vivo assim porque amo,
Paro assim em nome da mulher que amo.
Mas quando acordo,
Quando volto desse transe de amor,
Eu escrevo mais.
Tudo vale,
Posso tudo,
Faço certo,
Porque vejo perto
O sorriso lindo da mulher que eu amo.


Cacau Rodrigues

OS MEUS ESCRITOS



OS MEUS ESCRITOS


Os meus escritos
Esbarram nas besteiras que eu falo,
Na seriedade que eu calo,
Nos meus momentos, quase todos tensos;
Nas porcarias que eu penso,
Na poesia que eu sonho,
Na filosofia que eu proponho,
No cigarro que eu fumo,
Na droga que eu não quero,
Na bebida que eu disponho,
No time do meu coração,
Na minha mais pura emoção,
Na minha mais pura frieza,
Na minha visão de beleza,
No meu viver de pecado,
No meu achar que é sagrado,
No amor que eu necessito,
Nos momentos que eu me excito,
No sexo que eu gosto,
Nos números que eu aposto,
Na verdade e na mentira
Que brigam dentro de mim.
Sim, os meus escritos
Só são meus escritos
Porque são assim.
Porque sou assim.


Cacau Rodrigues

segunda-feira, 11 de maio de 2009

DE MALAS PRONTAS PRO FUTURO



DE MALAS PRONTAS PRO FUTURO


Eu joguei fora o meu passado;
As minhas lembranças,
As taças,
Os cálices,
Rasguei de vez minhas escritas antigas.
Foi tudo pro lixo hoje.
Derramei meus lutos,
Relembrei minhas lutas,
Sucatiei a bosta dos tropeços malditos
E mandei tudo embora.
Não foi fácil,
Eu vi o meu melhor e o meu pior
Em sacolas, caixas,
Sendo carregados por mãos estranhas;
Mas eu sabia que seria assim.
E minha vida já nasceu carregada por mãos estranhas,
Meu desejo foi tantas vezes carregado por mãos estranhas,
O que seria um monte de guardados?
O que seria um monte de roupas que não uso mais graças a Deus?
O que seria um monte de lembranças?
Eu não sou mais aquela pessoa,
Não escrevo mais naquele tom sombrio,
Não tenho mais aquele cheiro,
Não cheiro mais aquele medo,
Aquela poeira maldita,
Não tenho mais aquele olhar.
Rasguei fotos,
Queimei sorrisos falsos,
Chorei um pouco até.
Mas disse um puta “vida que segue”,
Porque de puta e vida vale o que fica;
Como a feia do poste,
A coroa bonita,
Sempre me interessa mais o que vem pela frente.
Destino? Um cacete pro destino!
Destino eu quebrei,
Destino eu parei,
Destino eu mudei,
Destino é o destino que eu sei!
A vida não me mudou por completo,
Isso eu percebi.
Mas eu mudei minha vida completamente,
Desde que me conheci.
Um belo dia dei de cara comigo
Num canto da vida,
E deparei com uma figura
Que sonhara ser brilhante.
E lá estava eu,
Brilhante de loucura,
Nos dedos,
No nariz,
Na boca,
Nas entranhas,
Nos medos;
Louca e só.
Um tipo qualquer,
Fragmento de mulher,
Uma sujeira em pó.
A poeta gritou não!
A mulher abriu o peito,
Ainda meio sem jeito,
E disse um basta!
Hoje o nó na garganta
Emudeceu as tristezas da alma;
E para sempre sim,
Hoje sei, para sempre,
Joguei no lixo
O luxo de um lixo
Que ainda agonizava em minhas gavetas.
Abri o porão,
E joguei fora o meu passado.
Eu estou de malas prontas pro futuro, meu bem!
Carrego comigo o presente de um amor que é tudo pra mim;
Não tem espaço pra droga nenhuma na minha bagagem, valeu?
A minha identidade sou eu,
Com o que existe,
O que virá,
O que aconteceu.
Mas agora acendo um cigarro,
Tomo um ice, porque é mais fraco
- Vodka pura arrebenta com a gente!
Levanto a cabeça,
E vou seguindo pela vida
Rindo demais!
O resto?
Ah, o resto agora tanto faz!


Cacau Rodrigues


DIA E NOITE NA CAMA



DIA E NOITE NA CAMA


Aos olhos do dia,
Da boca da noite,
Saem as mais vadias tentações,
Nas mais variadas posições,
Nos maiores anseios e perdições.
E tentando ser sério,
O coitado do dia apenas se abre
Num sorriso de luz irrepreensível.
Mas sem se levantar um minuto sequer da cama.
A noite é vagabunda.
Mas é assim que o dia a ama.


Cacau Rodrigues

domingo, 8 de fevereiro de 2009

QUARENSCÊNCIA



QUARENSCÊNCIA


Chego aos quarenta anos inteira. Sobrevivi.
Chego aos quarenta anos com muitas dúvidas, por que não?
Mas carregando certezas valiosíssimas!
Hoje olho o mundo por um ângulo mais aberto,
E acredito em todas as possibilidades
Que a vida tem pra oferecer.
Chego aos quarenta anos com vontade de viver,
Vontade de ser.
Não foi o mundo que mudou,
As pessoas não mudaram comigo,
Não há mais segurança,
Não mudou o perigo;
Eu mudei.
Escrevo melhor.
Não sei se mais certo gramaticalmente;
Mas escrevo o que quero,
Escrevo o que sinto.
E escrevo sem medo de ferir,
Sem medo de mostrar,
De me mostrar.
Escrevo feliz.
E escrevo tudo a essa altura,
Porque me descobri poeta,
E me assumi poeta,
E “me vivo” poeta
Aos quarenta anos.
Antes eu não sabia
Que aquilo que eu fazia
Tinha condição de encantar,
Despertar desejos,
Fantasias,
Reflexões,
Descrever paixões;
Não sabia que era poesia.
Chego aos quarenta anos POETA.
Poeta do povo,
Poeta da rua,
Poeta da vida,
Poeta do mundo!
Poeta!
Chego aos quarenta anos gostando do que faço,
Gostando do que penso,
Gostando DELA,
Gostando de mim.
Estou entrando na fase do “eu posso tudo,
Eu sei tudo, conheço tudo, quero tudo,
Que se dane tudo...”
- parece uma adolescência na contramão!
É uma fase de uma responsabilidade tão auto-suficiente,
Que chega a ser irresponsável.
A fase única e inquestionável dos quarenta anos!
Quantas andanças,
Quantas lembranças,
Quantos planos,
Quantos enganos...
Quantos desenganos...
Amores...
Desamores...
Amigos,
Inimigos,
Medos desfeitos,
Outros adquiridos;
Segredos...
Atitudes incorretas,
Encobertas;
Atitudes dignas
Tomadas nas horas certas;
Quantos erros!
Incontáveis!
Quantos acertos memoráveis!
Muitas perdas,
Alguns ganhos;
Inúmeras derrotas,
Importantes vitórias!
Sexo, amor, ódio,
Alegrias, tristezas, decepções...
Todos esses ingredientes comuns
De um coquetel de vida;
Vida que segue!
Graças a Deus!
Chego aos quarenta anos com esse desejo de vida.
Eu não sabia viver,
Não sabia amar,
Não sabia saber.
Eu aprendi cada detalhe,
Queimei cada etapa,
Pra chegar até aqui e falar pra você,
Que lê mais um texto qualquer;
Pra você saber
Que este não é um texto qualquer;
Este é o texto que fala dos meus quarenta anos de vida!
Vida!
Minha vida!
Chego aos quarenta anos viva!
E com histórias pra contar,
Algumas que ainda acho melhor ocultar...
Chego aos quarenta anos
Sem padres, missas,
Sem sermões;
Sem pedir bênçãos nem perdões;
Mas com uma fé indestrutível!
Chego aos quarenta anos mais flexível,
Porém intransponível.
Depois de tantas quedas,
Depois de levantar e prosseguir tantas vezes,
Chego aos quarenta anos mais cansada;
Mas chego muito mais forte.
Chego aos quarenta anos menos gata,
Mas chego muito mais tigre.
Chego aos quarenta anos usando óculos (risos),
Mas enxergando muito mais além!
Chego aos quarenta anos devendo a todo mundo (mais risos),
Mas sem dever nada a ninguém!
Fiz coisas das quais tenho raiva,
Outras das quais até me orgulho;
Mas jamais tive pena de mim.
Eu sempre me mostrei soberana!
Afinal, toda “mercadoria” impressiona mais com um bom embrulho!
A embalagem é tudo, meu bem! Até engana!
Eu sempre me embrulhei bem;
E “embrulhei” também.
E chego aos quarenta anos embrulhadinha pra presente!
De grego talvez;
Mas embrulhadinha pra presente.
Quem quiser que se apresente.
E se puder que me apresente,
Se tiver contestação,
Com total sustentação.
Caso contrário me aguente!
Chego aos quarenta anos melhor que a encomenda;
Mas eu não estou à venda!
Quem quiser que saiba me ganhar.
Chego aos quarenta anos sabendo chegar!
Dou um trago, tomo outra,
Faço o que acho melhor pra aliviar!
Dispenso outras drogas;
Chego aos quarenta anos com a certeza
De que uma carreira de pó sobre a mesa
Só faz o babaca parar;
E eu quero é caminhar!
Chego aos quarenta anos com um mundo de metas,
Um mar de expectativas,
Um céu inteiro de esperança,
E um universo de amor pelo amor da minha vida;
Meu desejo maior, meu querer, minha querida.
Eu sou Cacau Rodrigues,
Sou aquariana do segundo decanato;
Aquele tipo marrento, meio chato;
Insuportável e adorável,
Dependendo do trato, do ato,
Quem sabe até do primeiro contato!
Uma provocadora de sentimentos extremos,
Uma mulher direta e objetiva,
Sem rodeios ou meias-medidas;
Uma formadora de opiniões contrárias,
Diversas, adversas, adversárias.
Mas estou em paz, estou feliz;
Tenho momentos de profunda tristeza,
Como todo mundo;
E um temperamento difícil,
Como todo mundo diz.
Umas vezes intolerante,
Outras vezes intolerável;
Mas na verdade uma criatura muito amável.
E sou poeta, carioca,
Portelense, flamenguista;
Como já disse não estou à venda,
Mas chego aos quarenta anos avisando:
Meu valor é esse,
E o pagamento tem que ser à vista.



Cacau Rodrigues



domingo, 25 de janeiro de 2009

PRÊMIO BLOG DE OURO (Mulheres Diferentes)



Este blog foi indicado por SAM.

http://sentimentos-sam.blogspot.com/

Seria Cacau Rodrigues uma mulher diferente?

Muito obrigada, minha Sam. Você sim é uma mulher que faz a diferença!

E eu ofereço a todas essas mulheres, que eu conheci aqui no Furacão, no orkut, no Multiply, e em todos os endereços virtuais ou não, por onde passei, onde entrei, fiquei, fugi, voltei, parti pra sempre... Enfim, todas as mulheres que, me fazendo bem ou me fazendo mal, e eu a elas, todas! sempre estarão dentro de mim, porque de alguma forma, todas fazem ou fizeram A Diferença para que eu me tornasse alguém melhor.

Parabéns a vocês todas!

Parabéns a todas as donas de blog, amigas queridas, poetas, formadoras de opinião!

Cacau Rodrigues

PRÊMIO DARDOS 2009


Este blog foi indicado por pelos blogs SAM e DESNUDA, da minha amiga Sarinha Freitas.
Eu agradeço de todo coração, minha amada.
Aproveito pra indicar a todos os meus amigos do Blogspot - os amigos do Furacão, e todos os meus amigos do Multiply.
Vocês todos trabalham com a máxima perfeição de sentimentos e palavras.
PARABÉNS!
Cacau Rodrigues

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O PRAÇA XV



O PRAÇA XV

E lá vai ele,
Todos os dias,
Atravessando cruzamentos,
Dobrando esquinas,
Parando nos pontos,
Carregando passageiros;
E levando com ele
Os meus sonhos.
Na velocidade que ele vai,
Só meus pensamentos
Podem alcançá-lo;
Mas eu insisto em andar um pouco mais,
Na ilusão apaixonada
De seguir até o ponto
Onde ela vai saltar.
Fico na primeira esquina,
E ele dobra no final da avenida;
Sigo minha sina
De não alcançar minha querida;
Odiando esse ladrão
Que rouba o que eu mais preciso,
Carrega o mais belo sorriso,
E me Maltrata,
Na distância que parece eterna.
Ele segue firme,
Impiedoso;
Gigante em lataria e máquina,
Todo crente, e até meio vaidoso.
E eu fico aqui,
Naquilo que eu chamo
De tarefa amarga
De aguardar idas e vindas
Desse ditoso ônibus,
Temporariamente o dono
Da mulher que eu amo.


Cacau Rodrigues

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

FELIZ COM MINHA BEBEDEIRA



FELIZ COM MINHA BEBEDEIRA


E eu estou aqui
Feliz com minha bebedeira
Passando na vida de bosta a rasteira,
Gozando os filetes de luz,
Sonhando com os beijos dela,
Amando cada vez mais.
E eu falo de mim,
De nós,
Dos contras, dos prós,
Dos putos dos girassóis!
Detesto girassóis!
Uma filha da puta de vida,
Uma vida de puta
Da filha de uma puta de vida até feliz!
Que destino de merda é esse
Que eu nem quis?
Mas os olhos dela me levam ao êxtase,
O sexo dela me leva ao céu;
O sorriso dela me faz derreter;
E eu tiro o chapéu!
Eu me viro, me deito,
E me deito e me viro,
E me ‘desço’,
E me lambuzo desse mel.
Sim, meu bem...
Aí tiro o chapéu!
E bebo, e como,
E fumo, e morro
Todos os minutos
Que ela não está comigo.
Ser feliz é deslizar na língua dela,
Maravilha é o corpo dela como abrigo.
Novo ano começa,
Há pressa, meu bem?
Apressa!
Estou chegando
Pra amar essa mulher!
E lambuzar aquele corpo
Com saliva de gozo;
Depois molhar aquele corpo
Com champagne nacional;
Porque não tenho caixa pra bancar Moet Chandon, meu bem!
O importante é o efeito dessa boca que eu tenho
No corpo que ela tem.


Cacau Rodrigues