domingo, 8 de fevereiro de 2009

QUARENSCÊNCIA



QUARENSCÊNCIA


Chego aos quarenta anos inteira. Sobrevivi.
Chego aos quarenta anos com muitas dúvidas, por que não?
Mas carregando certezas valiosíssimas!
Hoje olho o mundo por um ângulo mais aberto,
E acredito em todas as possibilidades
Que a vida tem pra oferecer.
Chego aos quarenta anos com vontade de viver,
Vontade de ser.
Não foi o mundo que mudou,
As pessoas não mudaram comigo,
Não há mais segurança,
Não mudou o perigo;
Eu mudei.
Escrevo melhor.
Não sei se mais certo gramaticalmente;
Mas escrevo o que quero,
Escrevo o que sinto.
E escrevo sem medo de ferir,
Sem medo de mostrar,
De me mostrar.
Escrevo feliz.
E escrevo tudo a essa altura,
Porque me descobri poeta,
E me assumi poeta,
E “me vivo” poeta
Aos quarenta anos.
Antes eu não sabia
Que aquilo que eu fazia
Tinha condição de encantar,
Despertar desejos,
Fantasias,
Reflexões,
Descrever paixões;
Não sabia que era poesia.
Chego aos quarenta anos POETA.
Poeta do povo,
Poeta da rua,
Poeta da vida,
Poeta do mundo!
Poeta!
Chego aos quarenta anos gostando do que faço,
Gostando do que penso,
Gostando DELA,
Gostando de mim.
Estou entrando na fase do “eu posso tudo,
Eu sei tudo, conheço tudo, quero tudo,
Que se dane tudo...”
- parece uma adolescência na contramão!
É uma fase de uma responsabilidade tão auto-suficiente,
Que chega a ser irresponsável.
A fase única e inquestionável dos quarenta anos!
Quantas andanças,
Quantas lembranças,
Quantos planos,
Quantos enganos...
Quantos desenganos...
Amores...
Desamores...
Amigos,
Inimigos,
Medos desfeitos,
Outros adquiridos;
Segredos...
Atitudes incorretas,
Encobertas;
Atitudes dignas
Tomadas nas horas certas;
Quantos erros!
Incontáveis!
Quantos acertos memoráveis!
Muitas perdas,
Alguns ganhos;
Inúmeras derrotas,
Importantes vitórias!
Sexo, amor, ódio,
Alegrias, tristezas, decepções...
Todos esses ingredientes comuns
De um coquetel de vida;
Vida que segue!
Graças a Deus!
Chego aos quarenta anos com esse desejo de vida.
Eu não sabia viver,
Não sabia amar,
Não sabia saber.
Eu aprendi cada detalhe,
Queimei cada etapa,
Pra chegar até aqui e falar pra você,
Que lê mais um texto qualquer;
Pra você saber
Que este não é um texto qualquer;
Este é o texto que fala dos meus quarenta anos de vida!
Vida!
Minha vida!
Chego aos quarenta anos viva!
E com histórias pra contar,
Algumas que ainda acho melhor ocultar...
Chego aos quarenta anos
Sem padres, missas,
Sem sermões;
Sem pedir bênçãos nem perdões;
Mas com uma fé indestrutível!
Chego aos quarenta anos mais flexível,
Porém intransponível.
Depois de tantas quedas,
Depois de levantar e prosseguir tantas vezes,
Chego aos quarenta anos mais cansada;
Mas chego muito mais forte.
Chego aos quarenta anos menos gata,
Mas chego muito mais tigre.
Chego aos quarenta anos usando óculos (risos),
Mas enxergando muito mais além!
Chego aos quarenta anos devendo a todo mundo (mais risos),
Mas sem dever nada a ninguém!
Fiz coisas das quais tenho raiva,
Outras das quais até me orgulho;
Mas jamais tive pena de mim.
Eu sempre me mostrei soberana!
Afinal, toda “mercadoria” impressiona mais com um bom embrulho!
A embalagem é tudo, meu bem! Até engana!
Eu sempre me embrulhei bem;
E “embrulhei” também.
E chego aos quarenta anos embrulhadinha pra presente!
De grego talvez;
Mas embrulhadinha pra presente.
Quem quiser que se apresente.
E se puder que me apresente,
Se tiver contestação,
Com total sustentação.
Caso contrário me aguente!
Chego aos quarenta anos melhor que a encomenda;
Mas eu não estou à venda!
Quem quiser que saiba me ganhar.
Chego aos quarenta anos sabendo chegar!
Dou um trago, tomo outra,
Faço o que acho melhor pra aliviar!
Dispenso outras drogas;
Chego aos quarenta anos com a certeza
De que uma carreira de pó sobre a mesa
Só faz o babaca parar;
E eu quero é caminhar!
Chego aos quarenta anos com um mundo de metas,
Um mar de expectativas,
Um céu inteiro de esperança,
E um universo de amor pelo amor da minha vida;
Meu desejo maior, meu querer, minha querida.
Eu sou Cacau Rodrigues,
Sou aquariana do segundo decanato;
Aquele tipo marrento, meio chato;
Insuportável e adorável,
Dependendo do trato, do ato,
Quem sabe até do primeiro contato!
Uma provocadora de sentimentos extremos,
Uma mulher direta e objetiva,
Sem rodeios ou meias-medidas;
Uma formadora de opiniões contrárias,
Diversas, adversas, adversárias.
Mas estou em paz, estou feliz;
Tenho momentos de profunda tristeza,
Como todo mundo;
E um temperamento difícil,
Como todo mundo diz.
Umas vezes intolerante,
Outras vezes intolerável;
Mas na verdade uma criatura muito amável.
E sou poeta, carioca,
Portelense, flamenguista;
Como já disse não estou à venda,
Mas chego aos quarenta anos avisando:
Meu valor é esse,
E o pagamento tem que ser à vista.



Cacau Rodrigues