quinta-feira, 6 de março de 2008

DE VOLTA AO CAIS DE LUZ



DE VOLTA AO CAIS DE LUZ



Estou num lugar estranho;
Estou num lugar escuro;
Estou em outra esfera;
Mas a mesma fera ainda mora em mim.

É fácil morrer assim;
Fácil matar-se, morrer-se,
Fartar-se de nada.

Difícil é ser feliz,
Estar de volta ao cais de luz.
Ninguém sabe nada nas sombras.

Mas há um foco aberto,
E está quase aqui, bem perto;
Tímido facho de luz solar.

Não tenho mais medo;
Nem sei o que há.
Apenas conheço a tristeza da vida;
As lembranças não vão me cortar.

Agora não mais sairei pela rua,
Agora não mais chorarei só pra mim.

Revolver é uma questão de tempo;
Diga ao povo que eu decidi ser feliz.




Cacau Rodrigues

BELEZAS AZUIS



BELEZAS AZUIS / mais uma tocaia do destino



Eu estou nesse túnel
De flores e luzes,
De dores e amores,
De bocas vermelhas,
Taças vazias,
Corpos nus;
Uma alucinante viagem
De belezas azuis.
Um bombardeio de sonhos,
Um rodeio de frases próprias - impróprias,
Ou sem sentido algum.
Uma geleira no peito
De um corpo escaldante,
Um olhar sanguinário
Atento às veias de qualquer um.
Agrido-me em gritos;
Agridem-me as dores;
Vejo-me no meio de um vendaval.
Estou acompanhada aqui,
Mas estou acompanhada e só;
Ninguém pode sentir
As minhas dores por mim.
E vomito coisas podres
Que estão guardadas
Nesse corpo sofrido;
E aproveito pra vomitar problemas,
Expulsar rancores,
Casos de amor,
E até teoremas
Que jamais fiz.
Estou no fim de minha própria resistência;
Mas estou no fim de mais essa tocaia do destino.
Entrei em parafuso,
Fiquei em desatino;
Mas compreendi
Que tinha de ser assim mais uma vez.
A gente colhe o que planta.
No final do túnel
Tem alguém que me ama,
Me espera e levanta;
Não vejo a hora de sair daqui.
Esse caminho é só meu;
Seguirei na mais ‘assistida’ solidão.
A luz já aparece;
Eu sei que foi mais uma etapa
Da expiação.
Que brilhe a luz!
Que seja minha essa luz!
Não tenho mais medo!
Foi bom ver revelado o segredo
Nessas belezas azuis!





Cacau Rodrigues

UMA CASA FEITA PRA VOCÊ

UMA CASA FEITA PRA VOCÊ


Nas paredes não há quadros,
Não há pregos;
Só buracos, e uma espécie de ranhuras;
E uma cor já sem vida,
Na espera de uma massa corrida
E uma tinta
Que faça essa casa ressurgir das cinzas.
Só há portas quebradas,
Pisos foscos, machucados;
Vidros sujos, embaçados,
Com algumas rachaduras;
Cômodas às escuras,
Uma casa em pedaços.
O telhado quebrado,
Já não protege dos filetes de luz solar;
E as goteiras
Já parecem cachoeiras;
Que Deus não permita desabar!
Há uma solidão evidente,
Um medo aparente,
Um discurso eloqüente
De descaso.
Mas a reforma está aí,
Os fantasmas vão sair,
E tudo será como já foi um dia.
Eu não tenho medo;
Vou arregaçar as mangas
E ajudar os pedreiros,
Os pintores;
A beleza voltará!
Haverá brilho nos móveis,
Os espelhos ficarão mais nítidos,
Os quartos voltarão a abrigar meus sonhos,
Meus amores,
Meu EU esquecido
Nesse corredor perdido,
Que só me levou ao porão.
A minha alma será novamente
Uma casa iluminada,
A mais perfeita morada
Pro meu coração.
E depois de varridos
Os cantos do meu passado,
E toda a sujeira
Estiver no lixo,
Acenderei as luzes,
Destruirei todas as cruzes
Que eu carreguei.
E aí sim,
Eu vou te mandar entrar, amor.
De vez.
Eu vou te abrigar num palácio de desejos;
Trazer-te em uma bandeja
Todos os meus beijos;
E me colocar na mesa,
Como um banquete dos deuses.
E podes ter certeza,
Que não haverá mais escuridão,
E nem pobreza;
Farei de ti
A mais nobre princesa,
A rainha da beleza;
Aquela que nasceu
Pra morar dentro de mim.





Cacau Rodrigues