terça-feira, 24 de abril de 2012

SAUDADE DE MINHA TIA VERINHA



A lágrima cai impetuosa.
Calada,
Descarada,
Molha o riso,
Lava a cara.
Uma saudade rascante,
Faz da lembrança
Surgir um riso por instantes.
E a poeta chora.
Como uma filha abandonada
A sobrinha chora.
Aquele coração de mãe
Da tia amada
Prega uma peça,
Tão depressa!
E se cala.
Uma dor de órfão,
Na calçada
Em noite fria,
Escurece a vida
Com a morte
Em pleno dia.
E o desespero se faz presente
Em soluços incontroláveis.
Por quê? – pergunto ao nada!
E Deus parece me acalmar
Com a simples conclusão
De um “chegou a hora”.
Mas não há conformação
Onde existe amor.
Uma aceitação,
Que emana da razão,
Tenta dar um jeito
Na cabeça desordenada
De quem sofre;
Mas é só por míseros momentos.
Minha tia amada não está mais aqui.
Fisicamente não existe mais.
Definitivo.
Sim, é definitivo.
E não há coisa mais poderosa
Que o definitivo.
E fez impotentes os meus sonhos
Sem aviso.
E me vem à mente
O café com leite da titia;
O meu perfume,
Que ela procurava pelo corpo
Quando eu saía;
A varanda tomada de nossa cantoria;
Os longos papos, as gargalhadas,
Até as brigas de família;
A devoção aos bichos;
O socorro quando eu caía;
A cumplicidade nas batalhas,
Na certeza de vencermos as guerras
Todo dia.
E vencemos tantas!
Agora terei de lutar sozinha.
Sozinha?
Minha aliada invisível
Jamais me deixará sozinha!
Quem pensa que perdi
Não conhece Deus,
Sequer sentiu a força
De um amor verdadeiro.
Verdadeiro...
Deveras,
De Vera,
Verdadeira.
“Sou Vera verdadeira”,
Dizia ela em tom de brincadeira!
Sabe de uma coisa?
Abril nunca foi mesmo o seu mês favorito!
O outono nunca traduziu
O brilho de sol de verão que havia,
Agora na estrela,
Enfeitada de rosas vermelhas,
Da abundante primavera que sempre será você.


Cacau Rodrigues



“Minha tia amada faleceu subitamente na manhã de 07 de abril deste ano de 2012.


Presto aqui a minha humilde e solitária homenagem àquela que foi minha segunda mãe, dedicando-lhe o melhor de mim: a minha poesia.

 
Sabemos o quanto nos amamos, minha tia Verinha.


Até um dia!”




Dinha*




*Tia Verinha me chamava assim muitas vezes. Só ela me chamou assim.










domingo, 25 de março de 2012

CORTESIA



Corredor que chama;
Esquina que inflama;
Corpo que vibra,
Se abre em delícias,
Mas não ama.
Molho molhado
Molhando o sabor
Desse prato de amor.
Amor que está sem;
Amor que não vem;
Que nem foi, que já é;
De homem, mulher
E sei lá mais de quem.
É o traveco, é a puta;
Quem come lambuza
E se lambuza na fruta.
Eu voltei pra você.
Com saudade vendi o juízo
E nem vou receber.
Já nem sei mais cobrar,
Só me resta tomar mais um copo e fumar.
Vou te olhar bem no fundo,
Dar de ombros pro mundo;
E te chamar com um sorriso canalha,
Que afinal nunca falha;
Eu sei, você vai aceitar.
Se é imundo vender,
Que se foda você!
A saudade é de graça
Você vai pagar só pra ver.

 
Cacau Rodrigues

quinta-feira, 8 de março de 2012

A MULHER E A MENINA


E ela era mulher
E eu era menina.
A poesia até quer,
Mas amar não combina.
E ela era divina
E eu era menina.
Desgramada mulher,
Que amor não combina.
E ela era sem fé
E eu era menina.
Ai, Deus, se ela quer,
Devoção não combina.
E ela ia a pé
E eu era menina;
O olhar diz que quer,
Mas ficar não combina.
E ela quer, ela quer,
Volta e desatina.
Convidou pouco até,
Mas fugir não combina.
E deitava com fé,
Poesia divina;
Devoção ela quer,
E parar não comina.
Segredo de affair,
Tudo pode e combina;
Com a menina a mulher
Fez mulher a menina.


Cacau Rodrigues



EU NÃO SEI NADA DE AMOR



O amor é loucura de gente sã;
É mão de rezadeira;
Olhar de cortesã.

O amor é postulado de mal feito;
Passo dado de mal jeito;
Um quê de o quê, qualquer besteira vã.

O amor está pra quem não vem,
Mas não vem pra quem está.
O amor não faz sala quando não sai do quarto,
Não entra na cozinha quando não vai ficar.

O amor é merda que não fede e não cheira,
Mas é diamante de se adorar.
O amor é esse tal de romance em ribanceira,
Mas é serra de primeira,
Subida e descida pra quem quer se aventurar.


Cacau Rodrigues



quarta-feira, 7 de março de 2012

Poeminha da Ausência



Compreenda a minha falta de tempo,
A minha falta de jeito,
A falta que tenho feito.
Os meus dias de nobreza em família,
Como alicerce dessa casa,
Fazendo parte da mobília,
Estão me afastando da vida lá fora.
A vida já foi como eu quis,
Hoje está difícil ser feliz,
Não encontro uma saída agora.
Perdoe os sorrisos que não tenho mais,
Essa minha falta de paz...
Melhor ficar aqui
Do que ter que vir embora.


Cacau Rodrigues



Cantiga para não dormir


A noite está clara!
A noite está clara, meu bem!
Caminha comigo!
Caminha comigo,
Que o sono já vem.
Por ruelas e becos
Nós vamos passar.
O caminho é bem longo,
Mas vamos chegar.
Sem medo de nada,
Eu garanto, amada!
Antes da madrugada
Nós vamos deitar.
Essa lua tão linda,
Violões a tocar;
Romantismos à parte,
Deixemos que a arte
Venha nos encontrar.
Eu prometo, querida,
Uma vida sem dor.
É só vir comigo
E viver comigo
Essa noite de amor.


Cacau Rodrigues