sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A MINHA FÉ

A MINHA FÉ


A minha fé
Professa nas esquinas,
Na noite,
Nos copos,
Na fumaça,
Nas meninas;
Mas o importante é ter fé.
A minha fé
É sem cruz e sem terço,
Mas não me livra um terço
Da cruz que eu carrego,
E eu sei por quê;
Acho até que mereço.
A minha fé
Não protege,
É um pouco herege,
Um pouco até de mentira;
Às vezes satura,
E é do jeito que é;
Mas o importante é ter fé.
A minha fé
Não frequ
enta templos,
Não ajoelha em altares,
Não se confessa aos padres,
Não se compromete
Com horários, dias, lugares,
E não se prende ao exercício da oração.
Mas tem até santo de devoção!
A minha fé
É a cara da contradição.
A minha fé é mal vista;
Compra fiado,
Recebe à vista;
A minha fé é barganha,
Escambo,
Controvérsia;
Uma espécie de contravenção.
Mas o importante é ter fé!
Mesmo a fé que bebe um pouco de vinho,
Fuma o cachimbo da paz,
Cheira a Rosa de Hiroxima,
Deita a qualquer preço;
Não é fé de menos,
E só parece que fede mais!
A minha fé é sagrada,
De porta de boteco,
Beira de estrada;
É de comer a empregada,
Meter os dedos na calçada,
Sentar num colo na escada;
Mas eu rezo e durmo em paz!
Exatamente como aquele babaca,
Que faz igualzinho,
Mas não fala que faz.
O importante é ter fé, meus filhos!
E estamos todos perdoados; nada mais!
Ah, sim!
Amém!


Cacau Rodrigues