segunda-feira, 11 de maio de 2009

DE MALAS PRONTAS PRO FUTURO



DE MALAS PRONTAS PRO FUTURO


Eu joguei fora o meu passado;
As minhas lembranças,
As taças,
Os cálices,
Rasguei de vez minhas escritas antigas.
Foi tudo pro lixo hoje.
Derramei meus lutos,
Relembrei minhas lutas,
Sucatiei a bosta dos tropeços malditos
E mandei tudo embora.
Não foi fácil,
Eu vi o meu melhor e o meu pior
Em sacolas, caixas,
Sendo carregados por mãos estranhas;
Mas eu sabia que seria assim.
E minha vida já nasceu carregada por mãos estranhas,
Meu desejo foi tantas vezes carregado por mãos estranhas,
O que seria um monte de guardados?
O que seria um monte de roupas que não uso mais graças a Deus?
O que seria um monte de lembranças?
Eu não sou mais aquela pessoa,
Não escrevo mais naquele tom sombrio,
Não tenho mais aquele cheiro,
Não cheiro mais aquele medo,
Aquela poeira maldita,
Não tenho mais aquele olhar.
Rasguei fotos,
Queimei sorrisos falsos,
Chorei um pouco até.
Mas disse um puta “vida que segue”,
Porque de puta e vida vale o que fica;
Como a feia do poste,
A coroa bonita,
Sempre me interessa mais o que vem pela frente.
Destino? Um cacete pro destino!
Destino eu quebrei,
Destino eu parei,
Destino eu mudei,
Destino é o destino que eu sei!
A vida não me mudou por completo,
Isso eu percebi.
Mas eu mudei minha vida completamente,
Desde que me conheci.
Um belo dia dei de cara comigo
Num canto da vida,
E deparei com uma figura
Que sonhara ser brilhante.
E lá estava eu,
Brilhante de loucura,
Nos dedos,
No nariz,
Na boca,
Nas entranhas,
Nos medos;
Louca e só.
Um tipo qualquer,
Fragmento de mulher,
Uma sujeira em pó.
A poeta gritou não!
A mulher abriu o peito,
Ainda meio sem jeito,
E disse um basta!
Hoje o nó na garganta
Emudeceu as tristezas da alma;
E para sempre sim,
Hoje sei, para sempre,
Joguei no lixo
O luxo de um lixo
Que ainda agonizava em minhas gavetas.
Abri o porão,
E joguei fora o meu passado.
Eu estou de malas prontas pro futuro, meu bem!
Carrego comigo o presente de um amor que é tudo pra mim;
Não tem espaço pra droga nenhuma na minha bagagem, valeu?
A minha identidade sou eu,
Com o que existe,
O que virá,
O que aconteceu.
Mas agora acendo um cigarro,
Tomo um ice, porque é mais fraco
- Vodka pura arrebenta com a gente!
Levanto a cabeça,
E vou seguindo pela vida
Rindo demais!
O resto?
Ah, o resto agora tanto faz!


Cacau Rodrigues


DIA E NOITE NA CAMA



DIA E NOITE NA CAMA


Aos olhos do dia,
Da boca da noite,
Saem as mais vadias tentações,
Nas mais variadas posições,
Nos maiores anseios e perdições.
E tentando ser sério,
O coitado do dia apenas se abre
Num sorriso de luz irrepreensível.
Mas sem se levantar um minuto sequer da cama.
A noite é vagabunda.
Mas é assim que o dia a ama.


Cacau Rodrigues