sexta-feira, 10 de julho de 2009

NA SERRA DAS ARARAS



NA SERRA DAS ARARAS


Estou indo para São Paulo.
Subindo uma serra,
Quebrando as vidraças
Das paredes da minha alma.
Há um misto de solidão e liberdade
Dentro de mim.
Solidão de você;
Liberdade de você.
Sinto um pouco de fome.
E esse pensamento que não cessa,
Me levando até você o tempo todo.
Tento pensar em mim
E não consigo;
Tento pensar nos amigos
E não consigo;
Tento dormir
E não consigo;
Tento ler,
Mas não consigo.
Às vezes dá vontade de chorar,
Mas eu tô legal.
Nunca deixei o meu Rio de Janeiro,
Assim, tão responsável por mim;
E isso tá me deixando um pouco sem chão.
Mas eu tô bem.
Hoje me vejo em totais condições pra isso.
Um pouco só, é verdade,
Mas com uma lucidez fora do comum.
Eu me sinto bem.
E com tantas pessoas,
Mas sem você.
Sem ninguém.
Uma chuvinha chata
Faz tudo ficar mais chato;
Uma neblina
Que não me deixa ver bem a estrada;
Sem visibilidade não posso mesmo
Fazer quase nada.
Mas penso em você.
O apoio de pé da poltrona ao lado,
Depois do corredor,
Mexe sozinho.
Parece coisa de fantasma,
Achei engraçado,
Deu vontade de rir sozinha.
Ônibus...
O puto tem dois andares.
E eu caí em cima sem querer!
É pra rir.
Mas sabe que gostei?
É tranquilo aqui em cima.
E eu aqui com todas essas pessoas...
Tem uma menininha atrás de mim,
Com a mãe e a avó, eu acho;
Vendo Branca de Neve.
E ela fala, ri...
E nada baixo!
Pelo menos anima.
Sinto sua falta.
Sinto saudade do meu mundo.
Mas eu estou indo;
E indo para um encontro feliz.
Fui convidada para a festa
Da minha sobrinha Muriel.
E isso foi muito importante pra mim.
Penso em você a cada minuto,
Mas vamos prosseguir.
Vida que segue!
Sem meu café,
Sem minha casa,
Sem meu Rio,
Sem meu cigarro,
Sem a família,
Sem o bar do Zé;
E sem você.
Nem precisava
Escrever tanto sobre esse vazio
Para o mundo compreender.



Cacau Rodrigues

A MANTA



A MANTA


A manta,
Estilizada e santa,
Do frio que espanta,
Do frio que afronta,
Que amedronta,
Mas não desponta.
Pobre de mim,
Que acreditei tanto assim,
E levei essa manta.
Nem foi colada comigo,
Porque não havia lugar;
Nem precisava ir comigo,
Porque não havia esse frio
Pra eu ter que me agasalhar.
E o dia seguinte de sol,
Já mostrava que a manta,
Novamente seria descartada sim.
Mais uma noite de viagem,
A manta no compartimento de bagagem,
E eu me lembrando da manta,
E rindo muito de mim.



Cacau Rodrigues


Este poeminha é dedicado a Dirce Vetarischi, minha irmã amada, que insistiu pra que eu levasse a tal mantinha na viagem que fiz até sua casa, em Araraquara (SP). Que noite fria, que só estava na cabeça da minha mana Dirce, hein? rs.




CONFUSO ESTADO DE ESPÍRITO



CONFUSO ESTADO DE ESPÍRITO


O que meu estado de espírito não governa,
Com certeza externa,
Com certeza assume;
E me pune,
Às vezes deixa imune;
Porque a espera desespera,
O silêncio aprisiona,
O desprezo humilha;
Porque o amor amedronta,
Ou encoraja demais.
Poetas falam,
Poetas falam até quando calam;
Mas também querem ouvir.
Ficam analisando tudo e todos,
Talvez buscando respostas sérias,
Ou justificando pensamentos bobos.
Não falar para não perder,
É quase perder sem falar.
Por isso jamais me calei.
Mas não falar para perder
É uma atitude covarde,
Na mais pura demonstração
De desrespeito à sua própria importância.
Por isso também jamais me calei.
Minhas palavras gritam,
Porque meu pensamento arde.
Sou o que sou,
Assumo o que sinto,
Confesso o que sei.
Faço poesia porque tenho algo a dizer,
Mas também faço porque sei fazer.
Confesso o que sei,
Assumo o que sinto,
Sou o que sou.
Não tenho medo de ser o que sou.
Sou o que sou,
Confesso o que sei,
Assumo o que sinto.
Digo que amo,
Digo o que quero,
Com todas as palavras que tenho.
Assumo o que sinto.
E se meu estado de espírito está confuso,
Nem sei que palavras uso,
É porque a ausência de retorno,
Como fosse assim um estorno,
Se faz num silêncio gritante.
Quero me calar, mas não consigo;
Quero acreditar, mas não consigo;
Quero desistir, mas não consigo;
Quero respeito e não consigo.
O que fazer quando não se sabe mais o que fazer?
O que falar quando tudo já foi dito?
O que pensar quando não há diretriz de pensamento?
De que adianta ser poeta numa hora como essa?
Pra serve a poesia senão para tocar o coração das pessoas?
Poesia que não surte efeito nem deveria existir!
Poeta sem conceito deve ficar em casa e dormir.
Mas se existe uma tristeza
Misturada com certeza,
Num sentimento de grandeza
Da minha verdade,
Que é assim como riqueza,
Eu vou continuar aqui.
Quem diz a verdade não merece castigo;
Eu tenho o direito de ter o que ouvir.



Cacau Rodrigues