NA SERRA DAS ARARAS
Estou indo para São Paulo.
Subindo uma serra,
Quebrando as vidraças
Das paredes da minha alma.
Há um misto de solidão e liberdade
Dentro de mim.
Solidão de você;
Liberdade de você.
Sinto um pouco de fome.
E esse pensamento que não cessa,
Me levando até você o tempo todo.
Tento pensar em mim
E não consigo;
Tento pensar nos amigos
E não consigo;
Tento dormir
E não consigo;
Tento ler,
Mas não consigo.
Às vezes dá vontade de chorar,
Mas eu tô legal.
Nunca deixei o meu Rio de Janeiro,
Assim, tão responsável por mim;
E isso tá me deixando um pouco sem chão.
Mas eu tô bem.
Hoje me vejo em totais condições pra isso.
Um pouco só, é verdade,
Mas com uma lucidez fora do comum.
Eu me sinto bem.
E com tantas pessoas,
Mas sem você.
Sem ninguém.
Uma chuvinha chata
Faz tudo ficar mais chato;
Uma neblina
Que não me deixa ver bem a estrada;
Sem visibilidade não posso mesmo
Fazer quase nada.
Mas penso em você.
O apoio de pé da poltrona ao lado,
Depois do corredor,
Mexe sozinho.
Parece coisa de fantasma,
Achei engraçado,
Deu vontade de rir sozinha.
Ônibus...
O puto tem dois andares.
E eu caí em cima sem querer!
É pra rir.
Mas sabe que gostei?
É tranquilo aqui em cima.
E eu aqui com todas essas pessoas...
Tem uma menininha atrás de mim,
Com a mãe e a avó, eu acho;
Vendo Branca de Neve.
E ela fala, ri...
E nada baixo!
Pelo menos anima.
Sinto sua falta.
Sinto saudade do meu mundo.
Mas eu estou indo;
E indo para um encontro feliz.
Fui convidada para a festa
Da minha sobrinha Muriel.
E isso foi muito importante pra mim.
Penso em você a cada minuto,
Mas vamos prosseguir.
Vida que segue!
Sem meu café,
Sem minha casa,
Sem meu Rio,
Sem meu cigarro,
Sem a família,
Sem o bar do Zé;
E sem você.
Nem precisava
Escrever tanto sobre esse vazio
Para o mundo compreender.
Cacau Rodrigues