sexta-feira, 17 de julho de 2009

ESSE É MEU COMPADRE



ESSE É MEU COMPADRE


Aê, dá meu chapéu, meu cumpade!
Dá mole não, meu cumpade!

Mostra aê, meu cumpade!
Chega cambaliando,
Faz que foge e v
olta, e manda;
É na banda que tira a demanda!
Azeitando na hora alta da madruga,
É meu cumpade quem me ajuda!
Dá cá o chapéu, malandro!
Tô indo sem bando,
Vou de vermelho e branco, malandro!
Na galhofada eu mando!

Comandando a ralé,
encantando a nobreza;
E quem pensa que sabe qual é,
vira presa;
fácil presa,
Seja homem ou mulher.
E jogo mesmo!

Vou trocando as pernas,
Bandeando de cigarro e cerveja na mão!
Vou na mistura de chão:
Calçada, esquina, puta e cafetão!
É o cão da noite, cumpade!
É poesia, cumpade!
É língua macia, cumpade!
Vou descer a ladeira,
Girando, cantando,
Fazendo zoeira,
Pensando besteira,
Topando com o bode!
Quem encara se fode!
Vou dando rasteira

Em quem acha que pode!
A vida é assim:
Quem quer sair nem entra mais;
Quem quer entrar não pede, invade.
Eu nem ligo!
Sou protegida da lei do cumpade.



Cacau Rodrigues

POR MAIS QUE A VIDA PASSE



POR MAIS QUE A VIDA PASSE


Guardarei em mim teus gestos;
Guardarei pra ti meus versos.
E mesmo que os amores cheguem,
Assim, aos montes, diversos,
O que foi dito não se perderá jamais.
As palavras que vêm, as palavras que vão;
Todas as palavras são
Fruto de um íntimo querer.
As palavras escritas, as palavras ditas;
Todas como palavras de amor,
Foram feitas para se dizer;
E são a certeza de que nada disso terá sido por acaso.
Te desejei cada minuto,
Te amo mais cada minuto.
E por mais que a vida passe,
Seremos parte intrínseca de um sentimento eterno.
Por isso acredite,
Conhecer-te não foi algo sem sentido.
E não se desespere,
Querer-me nada tem de proibido.
A vida nos sorrirá,
Esse amor cada vez mais existirá,
Toda vez que um bobo se calar.
Toda vez que um bobo comentar.



Cacau Rodrigues

DIVINA DAMA



DIVINA DAMA


Divina dama!
Divina luz que o refletor emana!
Como é vermelho esse vermelho
Que me incendeia e chama!
Como é patético um clientinho bosta
Quando ama!

Muquifo de nobreza,
Que lugar de pobre natureza;
Tanto faz pra mim
Se é mau gosto ou beleza.
Levo uma rosa murcha
Pra consumir minha princesa,
Venho aqui pra ir além.
E eu encanto do meu jeito,
Pelos cantos, do meu jeito;
Faço cara de quem matou alguém.

Num cabaré todas as figuras são assim:
Desenhos de bandidos,
Esboços de ‘fudidos’,
Retratos de nós mesmos.
Cara, jeito e história de ninguém.

E eu, a bandida, como a deusa,
Em meio à fumaça e as putas de um corredor.
Molhando o sexo e os dedos,
Sem corriolas nem segredos,
Vou sozinha nessa missão de quase amor.
A língua suave, embora rígida,
Habilidosamente incha
O grelo da distinta de tesão.

E ela não vai com todo mundo,
Gosta de um tipo vagabundo,
Que vira homem quando ela quer.
Por trás eu meto o brinquedo,
Na dita brinco com meus dedos,
E faço da vadia qualquer coisa
Parecida com uma mulher.

E depois de ser um lixo singular,
Num contexto que não dá nem pra falar,
A divina dama sabe da hora de brilhar,
E nem andar ela consegue.

Mas ao adentrar no salão
A divina dama embriaga,
Se mostra numa dança rara,
Pára o mundo numa só situação.
E de antemão,
Como fosse pra evitar a confusão,
Rapidamente se retira;
E faz esse amontoado inútil e bobalhão,
Sem sentimento ou razão,
Ficar na mão,
Deixando o alívio pobre dos otários
Pelo chão.



Cacau Rodrigues

TANGO DO MALANDRO



TANGO DO MALANDRO


O tango do malandro é a gafieira.
Uma coisa de Exu com presepeira,
Um cariocado malandrão,
Um riscado no salão à noite inteira.
A dama argentina da Lapa,
É quase uma Pomba-gira caricata,
Uma dançarina acrobata.
Melhor parar pra olhar,
Que não tem repeteco não.
Quem é malandro da gira,
É chefe, manda-chuva, capitão!
Aê, malandragem!
Quem entra nessa não tem volta não!
O marafo queimando adoidado,
O tilintar do gelinho nos copos,
A carreira esticada na mesa;
A rapaziada chega,
A rapaziada cheira;
E a vida é uma beleza!


Cacau Rodrigues

INOCENTE SEDUÇÃO



INOCENTE SEDUÇÃO


A menina fala, olha,
Transborda curiosidade,
Quando o dia começa.
Vai andando assim,
Como quem não pensa em nada,
Num caminhar sem pressa.
E o dia passa em sorrisos, olhares,
E brincadeiras sem limites,
Totalmente infantis.
Ninguém sabe o que pensa essa moça;
Quantos desejos movimentam seus quadris.
Observo toda vez que ela passa,
Faço tipo,
Mas no fundo eu acho graça;
De repente até me esqueço
Que sou uma mistura perigosa
De poesia com cachaça.
Acendo um cigarro,
E ela sobe com a fumaça;
Se é perigoso acompanhar o que está feito,
Se puder, meu bem, desfaça.
Então procuro pensar em outras coisas;
Perder o rumo não vai me levar a nada.
No acostamento da razão eu paro um pouco;
O lugar nenhum está no caminho dessa estrada.
Mas a mulher se faz presente,
E fecha todas as saídas que eu encontro.
Maquiada para a noite,
Encantadora e linda,
Ela seduz os meus olhos mais ainda.
E o que vejo para nós assim de pronto?
Pode ser que o futuro marque um ponto.
Por enquanto imagino,
Mas não conto.


Cacau Rodrigues