terça-feira, 2 de setembro de 2008

MINHA LÁGRIMA LUSITANA



MINHA LÁGRIMA LUSITANA


Que lágrima é esta minha?
Que escorre pelo rosto,
Corre em versos,
Conta reversos,
Molha a cara toda,
Dentro e fora,
Manda embora
O sofrimento exposto.
Solidão e saudade,
Na mente perturbada
De quem ouve um fado,
A escrever dores do passado,
A sentir ausências do presente,
A projetar sucessos do futuro;
Que lágrima é esta minha?
Lembro-me agora de um Portugal
Que jamais conheci pessoalmente;
Talvez pela avó que eu amava,
Talvez pela descendência que lateja,
A aflorar consangüinidade
De outras eras,
Talvez pelo fado que ouço,
Talvez pelo carinho de Maria,
Amada amiga minha,
A Fazer-me recordar o que não vivi.
É como se eu renascesse
Além-mar.
O que há em mim é só um vazio;
Um imenso vazio!
Doloroso como um fado legítimo,
Caloroso como um abraço lusitano,
Perigoso como um ser torturado,
Amargurado como este estado insano
E alcoolizado em que estou.
Linda e amada Dulce Pontes,
A entrar como uma alma sonora
Em meu corpo,
A penetrar minha alma
Já tão preenchida de Brasil,
A misturar-se aos meus sentidos,
A expurgar traumas antigos.
Que cantora, meu Deus!
Que voz límpida mandaste
A este mundo sórdido!
Que bela e delicada mulher!
Dulce, doce mulher!
A poeta chora copiosamente,
Curva-se,
Ama desesperadamente
Sofre,
Ouve incessantemente
Este fado,
Que a remete à poesia;
E mesmo triste
Sente-se feliz.
Que sentimentos estes meus!
Que alegria triste!
Existe,
Como uma ‘estranha forma de vida’,
Vinda de um Portugal
Que eu não esqueço,
E não conheço!
Que sentimentos estes meus!
Que reencontro este meu!
Aqui estou eu,
A escrever,
E escrever,
E escrever,
E a escrever-te, Portugal!


Cacau Rodrigues