domingo, 17 de julho de 2011

MINHAS MEMÓRIAS



Estou a ler minhas memórias.
Estou a ler as memórias empoeiradas
E longínquas que, já guardadas
Em uma gaveta do futuro,
Esperam-me inquietas,
A contar minhas aventuras,
Bravuras,
Quem sabe loucuras;
E a fazer-me menos nobre,
E menos pobre!
Objeto direto
Da curiosidade do inconsciente coletivo.
Ainda que chocados,
Eles sobrevivem;
Ainda que exposta,
Sobrevivo.
E ponho-me a esfregar um jornal no espelho,
Para que este,
Limpo,
Reflita com mais nitidez
A imagem de meu eu presente.
E um pó de prata,
Brilhante,
Cintilante,
Cai da moldura estática,
Cravejando a madeira imponente do assoalho,
Com esboços de palavras
Desordenadas e ao contrário,
Na intenção, mais do que clara,
De escrever um impossível e exótico poema épico.
Eu já não me vejo ali;
Posto que, a essa altura,
Como fosse ‘desbravura’,
Como irônica desventura,
Já faço parte de minhas memórias.

 

Cacau Rodrigues




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