domingo, 17 de julho de 2011

ABORTO



Eu perdi.
Foi uma luta árdua,
Digna,
Cheia de esperança,
Mas eu finalmente perdi.
E de uma maneira pobre,
Até insignificante;
Longe do glamour
Daquele amor
Que seria perfeito.
Vi meu coração
Ser arrancado do meu peito,
Fui sentindo o peito se rasgar,
O fim de tudo começar,
Sem nenhuma cerimônia.
A vida tem dessas coisas.
O meu ser poeta,
O meu eu poeta
Está mais pobre.
Uma gente boba,
Uma sociedade tola
Deve estar rindo,
Rolando no chão
De um lado para outro,
Dizendo que amor como esse
Na verdade é muito pouco,
Que o que vale mesmo
É o amor de moldura,
Sempre exposto
Como um prêmio tosco,
Na parede frontal,
De cara pra porta
De uma sala de estar;
Neste caso de cara para um mundo
Infeliz, hostil e vulgar,
Que prefere derrotar
Do que propriamente vencer.
Eu sinto sair de mim
Uma força invisível,
Um espectro,
Um delírio,
Uma imensa tristeza,
Uma banalizada alegria,
Um tesão,
Uma magia;
Sinto a violência de uma inevitável
E paralisante solidão.
É como uma dor na alma,
Um nascimento torto,
Um flagelo,
Um aborto.
E embora talvez necessário e previsível fosse,
Ninguém se prepara para o fim.
Eu estou sofrendo.
Minha vida foi arrancada de mim.

 

Cacau Rodrigues





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