domingo, 21 de março de 2010

VAMOS VISITAR A ESTRELA PELA MADRUGADA / uma crônica poética da minha... “despedida?” rs


Eu sou poeta.
E poeta é sentimental,
Às vezes dramático,
Quase sempre exagerado,
Cafona quando preciso,
Um calhorda mais que preciso.
Ouvindo uma determinada música
Pensei na minha morte.
Se acontecer, porque eu não vou morrer!
Mas... se por acaso acontecer...
Além de todos os pedidos
Já deixados em outro texto *,
Percebo que serei uma morta cansativa,
Que sou e sempre serei imperativa,
E muito ativa, mesmo depois de bem morta.
Uma morta muito viva!
Então vou deixar aqui a música a ser tocada
No meu cortejo.
Todo mundo chorando,
Alguns me xingando,
Quem sabe gente sorrindo,
Outros até gargalhando;
E as ‘viúvas’ morrendo comigo...
Mas a melodia do ‘ah, Deus’
Será embalada pela palavra
Direcionada à minha poesia.
Quero que seja tocada
Na voz de Emílio Santiago, por favor!
Morta exigente, não?
Pena eu estar ‘ausente’
E não poder dizer umas palavras
Para todos os presentes...
Mas todos vão lembrar do deboche,
Da irreverência,
Da efervescência,
Das reflexões,
Das gargalhadas,
Dos poemas,
Da putaria,
Dos palavrões,
E do meu amor por ela.

Sì, mio unico e grande amore.
E cada um conseguirá,
Ou pelo menos tentará,
Adivinhar
O que eu diria em cada momento,
A cada movimento,
Na beleza e na tristeza de cada olhar.
Olha, não quero tristeza!
Vê lá!
Vida que segue!
O que digo aqui é pra rir,
Não pra chorar!
No meu velório todos já sabem o meu desejo:

Quero que toquem Simone;
Vez por outra,
revezando,
IO CHE AMO SOLO TE;
E no crematório quero que cantem bem alto,
Com muita raça e coração,
O hino do Flamengo!
É só um dengo, meu bem!
É só um dengo!
Mas no cortejo, Viagem, com Emilio Santiago.
Eu mereço, não?
Sei que será um dia diferente,
Esse da minha escapada final.
O dia vai passar mais lento,
Meio sem graça,
Sem piada,
Sem alento,
Sem poesia e sem cachaça.
A vida tão ávida de vida
Já não estará ali dando agilidade
Aos pensamentos e aos sonhos
Daqueles que realmente me amaram.
Tudo parecerá injusto e sem sentido.
Muitas histórias surgirão,
Outras se dissiparão,
Mas todas terão muita importância.
Ou nenhuma importância.
Algumas verdades,
Muitas mentiras,
Pouquíssimas “assumidas” orgulhosas,
Inúmeras negativas covardes;
E todo mundo terá, e dirá,
Um motivo nobre para estar ali.
Fora aqueles que se farão ausentes
Para não deixar transparecer na face
A força de um amor,
O arrependimento de um desprezo,
A dor de uma desesperadora saudade.
Mas eu estarei dormindo
Ainda, quem sabe;
Para depois acordar sorrindo,
Contando histórias para quem não sabe;
E continuarei fazendo poesia,
De outra forma, é verdade.
E com certeza,
O mais importante de tudo,
Eu estarei feliz.
E em breve,
Muito em breve,
Estarei visitando aqueles que eu amei.
Porque o amor é o único bem que se leva
Dessa vida para a outra.
Tudo que eu vivi
Somente eu poderia viver;
Tudo que eu fiz
Está feito, e não me arrependerei de NADA!
Tudo que eu escrevo
Deixarei como legado da única coisa
Que eu realmente amo fazer:
Minha poesia.

“Vamos, minha poesia, visitar a estrela pela madrugada!”



Cacau Rodrigues




*Texto citado: Um Furacão de Pensamentos

Olha, é um assunto meio idiota, mas faz parte de todo poeta: a identificação, e até certo entrosamento, com a morte.
Aí vai o link pra quem quiser relembrar essa música maravilhosa.
Esta é uma homenagem ao Dia Mundial da Poesia.

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