quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

UMA FAZEDORA DE VERSOS



UMA FAZEDORA DE VERSOS


Na poesia que eu faço
Não há refinamento
De palavras;
Não há compromisso
Com rimas ricas;
Não há pretensão de uma cadeira
Na Academia Brasileira de Letras.
Na poesia que eu faço
Não há sentido intelectual,
Preocupação de nunca ser igual,
Não há cunho literário
Para indicação de prêmios;
Muito menos há temas apurados
Para o paladar dos “chefs”
Formadores das “iguarias socias”.
Eu não vou fazer política,
Não vou falar pra meia dúzia
De entendedores da famigerada antropologia.
A poesia que eu faço
Tem outro papel na sociologia.
Na poesia que eu faço
Não há tristeza como beleza,
Não falo de amor como grandeza,
Nem uso sarcasmo com nobreza.
O “eu lírico” da poesia que eu faço
É da rua,
Do povo,
Do mundo.
Imundo e saboroso ítem principal
De cama e mesa.
Na poesia que eu faço,
Os doutores e os ‘Josés ‘,
As dores e os prazeres,
Sobem e descem como as marés.
Eu sou pobre de linguagem talvez;
Não sou perfeita no meu português;
Apenas tento fazer bom uso das palavras,
Pelo menos na sinceridade de usá-las.
Eu me digo poeta
Porque o povo diz que eu sou.
Na verdade,
Sou uma fazedora de versos,
De rimas da vida;
Uma exorcista de complexos.
Não tenho pudores
Ao falar das dores,
Dos amores;
Não fui concebida
Numa escola de atores.
Na poesia que eu faço,
Se bebe no copo das putas,
Se come no prato das senhoras distintas,
Se mostra o quadro da vida
Com todas as tintas.
Porque na natureza, meu bem,
Nem tudo são flores.


Cacau Rodrigues

Nenhum comentário: