quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

AOS PÉS DE UMA CIGANA ESPANHOLA



AOS PÉS DE UMA CIGANA ESPANHOLA


Enquanto o Flamenco esquentava a viela,
Meu tesão se ligava na dela,
Que era a mais bela.
A guitarra gritava,
O olhar me chamava
Num sapateado esquisito,
As ancas no ritmo das castanholas;
E eu estava aos pés da cigana espanhola.
Pelas tantas um puta sorriso,
Um sorriso de puta,
E o paraíso.
Vagabunda,
Chamava e sorria,
Virava de costas,
Virava de frente
E se abria;
A vadia queria,
E me chamava com o olhar.
Chupava os dedos,
Tocava os seios,
E dava urros de arrepiar.
De repente um ‘olê’,
De repente rodava
E pedia aos céus não sei quê;
E batia os pés,
E apontava pro solo,
Como num gesto ‘solo’
Pudesse indicar o inferno pra mim!
Ela queria me enlouquecer,
Que fosse assim!
Num gesto súbito
Pegou minha mão;
Me puxou pela rua,
Me fez dobrar a esquina,
Ficou toda nua,
E me atirou ao chão.
E num ‘portunhol’ maltratado sussurrou:
“Sou una puta, vadia,
Perdida en la vida;
Y quiero ser comida por vouce.”
Embriagada, tomada, meio drogada,
Por toda aquela atmosfera cigana,
Sucumbi aos caprichos da dama,
Na rua como cama,
Na porta de um casarão abandonado.
Depois de me render aos braços dela,
Num torpor de desejos satisfeitos,
Fiquei ali, observando,
Desavergonhada,
A bela moça espanhola,
De ancas largas
E olhar penetrante,
Sumir na imensidão do nada.


Cacau Rodrigues





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