sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O GOSTO DA NOITE


Eu gosto da noite.
A noite dos bares,
Dos boêmios,
Das calçadas;
A noite das boates,
Das criaturas alteradas.

A noite tem um gosto de tudo...
O gosto da noite tem tudo.
Feliz saliva da noite
Que lambuza aflita
Os corpos que vagam,
Se deitam, se abrem,
Se vendem, se pagam,
Se mostram, se bastam;
Notívagos demônios,
Tentando...
Tentados...
De pé ou deitados,
Nos muros, sentados,
Despertando pecados,
Satisfazendo desejos,
Provocando medos,
Revelando verdades...
Deixando no ar
Um certo aroma de maldade.

Eu gosto do gosto da noite...
A noite tem tudo que eu gosto.
Tem sons e cores definidos, inconfundíveis;
Coisa de 'achados e perdidos'...
Como a luz vermelha dos antigos cabarés,
A alegria meio triste dos puteiros,
O 'barato' de uma 'queima' que não fica nos cinzeiros,
A elegância bizarra dos bordéis;
O álcool que desliza
Nos copos calejados,
Pelas mãos habilidosas
Dos 'certinhos', dos 'errados'...
Todos muito descarados...
O pó que não se limpa,
Porque se 'limpa' a mente com seus efeitos
Maravilhosamente perigosos,
Nas cenas vividas
Por esses personagens acelerados ou entorpecidos,
Às vezes duvidosos...

Eu gosto de tudo que existe na noite...
Os carros de luxo
Dos bacanas enrrustidos,
Que param buscando o seu eu;
As pessoas solitárias,
Os casais apaixonados,
Os travestis,
As meninas nas esquinas,
(prostitutas, ou por que não dizer as putas),
Os gays, fêmeas e machos,
E os que vivem os dois lados;
Os seres que a sociedade nega durante o dia.
Aí está a noite e sua democracia.

Eu gosto da noite.
A noite dos bares,
Dos boêmios,
Das calçadas;
A noite das boates,
Das criaturas alteradas.
Eu gosto da noite;
Minha vida é madrugada.

E se perguntam se eu sou feliz,
Respondo que felicidade é o momento
E o "para sempre" não é nada.
Eu sou poeta,
E o poeta é livre!
O poeta faz a ilusão de toda gente... Gente!
Como eu, como você.
Eu sou feliz com a minha droga,
O meu cigarro,
As minhas putas,
Os meus carros;
E quem me odeia eu piso e escarro,
No aconchego do escárnio dos meus passos.
Não tenho medo das porradas, dos abraços...
Eu sou poeta da noite.

O que virá, não sei. Virá.
O que será, será.
E se a vida me deixar amar
Aquela que me emociona e cala,
Não duvide desse ser que fala,
Ficarei nos braços dela;
E o "para sempre" será tudo,
E todos os momentos serão de felicidade,
Como essa minha verdade.
A minha poesia me garante o direito de ser quem eu sou.
Exatamente como sou. Poeta.



Cacau Rodrigues

Um comentário:

SAM disse...

O gosto da noite é irresistivel e perigoso.Muitas vezes este gosto é vida ou morte.

Lindo texto, Cacau!

Beijos