quinta-feira, 29 de novembro de 2007

POESIA CARIOCA


POESIA CARIOCA


Boa noite, damas e valetes!
Venho aqui me apresentar!
Eu sou a fala fácil,
Macia, arrastada;
A fala que brinca,
Na marra,
Meio deitada...
Eu vivo nas bocas da noite,
No sereno sem capa,
No palavreado dos malandros da Lapa;
Sou a poesia carioca.
Vou de chapéu de palha,
Terno de linho branco...
Levo a vida "na malha",
No fio da navalha.
"Aê, mermão!" Vê se não espalha,
Mas eu sou a fina flor do Rio de Janeiro!
Vivo "na moral",
Mas sem moral,
Que moral demais atrapalha.
Jogo pesado na esquina,
Mas falo baixinho no ouvido da mina.
E encanto pra dedéu!
Mas "desencano" é no motel.
Falo alto, beijo, brigo,
Brinco, faço um escarcéu!
E me amarro numa literatura de "bordel".
Eu sou a poesia carioca.
Cariocamente livre,
Cariocamente feliz,
Cariocamente linda,
Cariocamente...
Carioca mente?
Mente.
Carioca mente.
Ca-ri-o-ca-men-te.
Mas diz a verdade na lata!
Dá a mão, mas mete a pata!
E faz a festa!
É samba, praia, futebol e cama!
Chama na "xincha" quando ama!
Tira onda na boa,
Tira sarro da boa...
Mete a beca do verão:
"Boné, chinelo, camiseta e bermudão."
Carioca faz a própria moda;
Carioca é foda!
E a maioria é Flamengo!
O mais querido
É mais um dengo carioca.
Eu rolo na vida desse povo
Que não tem medo de nada,
Porque não adianta;
Que cai, levanta,
E vai pra luta de novo.
Eu saio da mente rica do poeta
E da cabeça cheia do trabalhador.
Não babo em romantismos,
Mas quando quero sei falar de amor.
E dou sempre uma olhadinha
Lá pro Cristo Redentor,
Porque afinal de contas
Eu não sou de aço;
E essa cidade é maravilhosa,
mas é um terror!
Tô na área
Pra bater o pênalti,
Como todo grande batedor,
Que vai na certa de fazer gol.
Eu sou a poesia carioca.
Você vai me encontrar
Em cada canto que você passar.
No brilho do sol
Ou na luz do luar.
Todo mundo me conhece!
Um sotaque chiado,
Malandro, maneiro,
Do gingado brasileiro,
Que a 'garota de Ipanema'
Imortalizou no balançar.
Eu sou marrenta mesmo!
Esse é o meu jeito de falar.
E é como eu digo:
"Eu sempre venço no final.
Até quando perco, eu venço;
Ninguém derruba o meu astral."
Eu sou mais eu!
Sou a poesia carioca.
Sou uma poeta carioca.
Vai encarar?
Nem tenta, valeu?
Melhor nem tentar!
Mas aê,
Vai encarar?







Cacau Rodrigues

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